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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Parto: Gestão da dor

Retirado do site da revista Pais&Filhos


A dor de parto é a única que não significa que algo de errado se passa. Pelo contrário. É um dos sinais de que o bebé está quase a chegar. No entanto, muitas mulheres temem-na e procuram evitá-la. A nossa proposta é transformá-la numa aliada.


“A dor de parto não dá satisfação pessoal à grávida, mas é totalmente recompensadora no momento em que o seu filho nasce”. Quem o garante é Ofélia Lopes, enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstétrica, que desenvolve o seu trabalho de mestrado no Serviço de Obstetrícia do Hospital Garcia de Orta. Então por que razão continuam as contrações e a perspetiva de um parto fisiológico – leia-se, sem intervenções clínicas, com destaque para as analgesias – a assombrar tantas mulheres?

“Criou-se todo um cenário cultural, a começar pelos profissionais de saúde, de que o fundamental era evitar a dor, deixando-se de lado tanto o papel que esta tem em todo o processo, como as capacidades intrínsecas da mulher em aceitar e usar a dor no parto”. Daí que, neste momento, diz a mesma especialista, a esmagadora maioria dos nascimentos que acontecem em meio hospitalar incluem opções de medicalização, com destaque para a epidural (ver caixa). “Quase todas as mulheres pedem algo para as dores e as equipas, formatadas para aliviar o sofrimento de quem têm a seu cargo, respondem a esse pedido”. A questão é que a epidural, “ao relaxar o pavimento pélvico, pode retirar ao bebé a força ‘contrária’ da mãe”, ou seja, a “resistência de que ele necessita para não voltar para trás e continuar a avançar”.

E se a dor for entendida não como uma nuvem negra a ser evitada a todo o custo, mas sim assumida como parte integrante do parto? Para Ofélia Lopes, para que isso aconteça, a mulher tem de iniciar uma “transformação interior” idealmente mesmo antes de engravidar. “Tem de compreender, em primeiro lugar, que não se trata de uma dor constante ou incapacitante. Ela vai e vem, em resultado das contrações, e há um motivo poderoso para que isso seja assim: o bebé está a atravessar o canal de parto e a preparar-se para nascer”. Outro aspeto importante a reter é que a dor motiva na mãe a adoção de posições que a ajudam a aliviar o desconforto e, ao mesmo tempo, colocam a bacia nos ângulos mais apropriados para o bebé se ir movendo.

Para além da compreensão do processo fisiológico, diz Ofélia Lopes, “a mulher tem de procurar dentro dela a aptidão de gerir as manifestações físicas do processo, em particular da dor.” Determinar as suas capacidades e os seus limiares e “perceber o que é capaz de fazer” torna-se essencial. De qualquer forma, diz a enfermeira que dirige cursos de preparação para o nascimento, “é impossível saber, à partida, o que vai suceder. Porém, existem muitas ferramentas com que a grávida pode contar”.

Questão de estratégia

Para a enfermeira, uma boa opção é a mulher “organizar uma estratégia de alívio da dor com o acompanhante que escolher para o parto” e que pode ser o pai do bebé, a mãe, uma irmã, uma amiga, uma doula. Juntos podem pesquisar quais as instituições de saúde que oferecem as condições que desejam – seja elas a deambulação livre durante o trabalho de parto, a mudança de posição, a utilização de uma banheira de parto ou de uma bola de Pilates, a hipótese de receber manipulações do pavimento pélvico, massagens ou a aplicação do frio ou do calor – bem como terapias alternativas que desejem usufruir durante a gravidez ou no nascimento (ver caixa). Fazer um plano de parto, isto é, colocar em papel tudo o que se pretende e não se pretende para o nascimento, também ajuda a perceber de que forma a dor poderá ser gerida.

“Alguns dos partos mais memoráveis a que tenho assistido, acontecem durante a noite”, recorda Ofélia Lopes, acrescentando que em alguns casos “a mulher deixou-se embrenhar de tal forma no que estava a acontecer que, para além de não pedir analgesia, nascido o bebé relatou não ter sentido qualquer estímulo doloroso”. O horário noturno é fundamental, afirma: “o ambiente estava calmo, as luzes mais baixas, o barulho diminuído. Tudo contribuiu para que a grávida relaxasse, as endorfinas aparecessem em força, bem como a ocitocina”. No período da expulsão, com a chamada ‘hormona do amor’ em alta, estas mães “relaxaram de forma intensa e concentraram-se profundamente no que estava a acontecer. Nestas circunstâncias, a importância dada à dor tornou-se irrelevante”, conclui.


TERAPIAS MILENARES

Um número crescente de mulheres recorre a algumas técnicas não convencionais, não só para preparar o nascimento, como para auxiliar o processo, em especial na questão da dor. Em 2003, foi aprovada uma lei que enquadra o trabalho dos profissionais que se dedicam a esta área. No entanto, está ainda por estabelecer a regulamentação que lhes permita equiparar-se às terapias médicas. Em fevereiro deste ano, a Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu uma proposta de lei de enquadramento, o que pressupõe o fim de uma espera de nove anos. Mas fonte da instituição disse à Pais&filhos que este não é o fim do caminho, uma vez que o articulado final encontra-se ainda “em fase de preparação” pela DGS e pelos serviços do ministério da Saúde. Quer isto dizer que é ainda imprevisível a perspetiva de ver algumas das técnicas seguintes aplicadas com regularidades nos hospitais portugueses, apesar da sua comprovada eficácia. De qualquer forma, várias podem ser usadas antes do nascimento e mesmo durante o parto pela mulher ou por quem estiver junto dela.

Acupunctura – Durante o parto, o acupunctor coloca agulhas nos pontos do corpo responsáveis pela produção de endorfinas. A sensação de dor é atenuada e, nos casos em que o bebé assume uma posição difícil para nascer, pode facilitar a rotação.

Aromaterapia – Esta técnica utiliza os extratos essenciais das plantas com objetivos medicinais. No parto, óleos de lavanda, jasmim e gerânio podem ajudar ao relaxamento muscular e alívio de tensões. As substâncias são deitadas sobre o corpo, através de massagens, ou inspirados por via de água.

Hipnoterapia – O estado de relaxamento a que a mente chega, por auto-indução ou com a ajuda de um terapeuta, ajuda a controlar a dor, relaxando os músculos e evitando a tensão que causa as sensações dolorosas.

Homeopatia – Seguindo o princípio de que a doença – neste caso a dor de parto – se cura com aquilo que a causa, existem medicamentos homeopáticos que pode ser usados para a aliviar.

Ioga – As técnicas de respiração e de meditação treinados no período de gestação ajudam a mulher a controlar a dor durante o parto e a pensar exclusivamente no que está a acontecer com o nascimento do seu filho.

Reflexologia – A aplicação de pressões específicas em pontos dos pés ou das mãos, ajuda a libertar endorfinas e a dilatar o colo do útero. É uma das técnicas mais simples que o acompanhante da mulher pode aprender.

Reiki – É uma terapia que canaliza energias através das mãos. Feita regularmente durante a gravidez, chegado o momento do parto, ajuda a relaxar e diminui as sensações dolorosas. E pode ser realizado pela própria mulher.

Shiatsu – Tipo de massagem em que são utilizados os dedos, as mãos e os cotovelos para fazer pressão em alguns pontos específicos. Também chamada de ‘acupuncutura sem agulhas’, pode ajudar ao relaxamento durante o período de dilatação.


 A EPIDURAL

 A epidural não é uma anestesia, mas uma analgesia. Quer isto dizer que diminui ou elimina a dor em toda a região abaixo da cintura, mas deixa a mulher consciente e apta a seguir as indicações de quem a acompanha. Para a receber, a mulher deve estar imóvel, sentada ou deitada de lado e com as costas curvadas. O primeiro passo é a administração de um analgésico na epiderme, no local da picada de agulha.

É administrada nas costas, no espaço epidural, e a dor demora dez a 15 minutos a aliviar, permanecendo assim por sensivelmente duas horas, após o que poderá ser necessário reforçar a dose através do cateter. A analgesia raquidiana – que tem um efeito quase imediato – é por vezes usada em simultâneo com a epidural, mas cabe ao anestesista fazer essa opção, tendo em conta a dilatação e o estado geral da mulher.

Na maior parte dos casos, a epidural é administrada depois dos três ou quatro centímetros de dilatação, no início do trabalho de parto ativo. Quando são atingidos os nove centímetros, muitas equipas médicas defendem que já não vale a pena, pois o bebé está prestes a nascer. As contraindicações desta técnica são: infeção localizada ou geral, coagulação sanguínea deficiente e algumas patologias cardíacas ou neurológicas.

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