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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O que é isso da humanização do parto?

Boa pergunta não é?
Já comçamos a ouvir falar mais sobre o assunto, por isso, partilho convosco um texto  do site Amigas do Parto que explica bem as bases deste movimento.
Antes de escolherem onde vão ter o vosso bebé, sugiro que pensem como. É que nem todas as maternidades operam da mesma forma e assim podem escolher uma que se identifique mais com o vosso ponto de vista.

"Carta a uma grávida
Priscyla Alves Makiolke


Querida amiga:

Já imagino você sendo uma mãe maravilhosa, pois antes mesmo de engravidar já se mostra atenta ao assunto gestação e maternidade. Gostaria imensamente de poder estar com você principalmente nesse momento, mas como não será possível, te deixo informações que eu considero preciosas relacionadas ao tema gestação, parto e pós-parto sob a ótica da humanização. 
Não sei se você sabe sobre o que se trata humanização do parto, mas resumindo, se trata de dar a voz às mulheres, incentivá-las a serem tratadas com respeito e dignidade, e não permitir que elas permaneçam na posição passiva de corpo-objeto. O parto humanizado significa que a mulher é o sujeito da sua gestação, parto e puerpéreo. Significa que a mulher é responsável pelas suas escolhas e decisões concernentes ao seu corpo e ao corpo do seu bebê, para isso a mulher deve estar munida de informações e também prestar muito atenção aos seus limites.  Humanização do parto é também uma convocação ao respeito às nossas sabedorias instintivas.  É perceber que o corpo é sagrado, logo muito respeitável, portanto não deve ser manipulado com desdém e frieza. Humanizar a gestação, parto e puerpéreo é também reconhecer a força feminina.
Gostaria de te passar algumas indicações pertinentes a parte fisiológica que podem ser proveitosas para seu bem-estar. Os sintomas de desconfortos físicos mais comuns relativos ao primeiro trimestre da gestação são enjôo, sonolência acentuada e aumento da vontade de urinar. Para amenizar a sensação de enjôo você pode comer bolacha água e sal e tomar chás com gengibre. Quanto à sonolência acentuada é importante respeitar o pedido do corpo de repousar mais nessa fase. Evite conter a micção, pois pode provocar infecções urinárias. A partir do segundo trimestre gestacional os sintomas de desconfortos físicos maternos tendem a desaparecerem, e é comum sentir a retomada da disposição, ânimo e aumento do apetite sexual. A relação sexual que envolve carinhos, afeto e orgasmos são sentidos de maneira positiva pelo bebê devido aos hormônios que são produzidos nesses momentos. Muitas gestantes atingem um aumento de peso ainda maior a partir do ultimo trimestre, especialmente quando se aproxima o final da gestação. Para evitar isso tente substituir a ansiedade de comer doces por frutas, nem que sejam frutas secas. É importante fazer de 6 a 8 refeições por dia, com no máximo 3 horas entre elas. Beba muito líquido, dando sempre preferência a água, e evitar líquidos que possuam cafeína. É valido aumentar o consumo de frutas e verduras, aumentar o consumo de sementes e cereais, preferir carnes magras como peixe, e diminuir o consumo de frituras. Ademais, sobre a alimentação, é importante comer carnes bem cozidas, lavar frutas, verduras e legumes com água e detergente, e também utilizar solução de água e bicarbonato de sódio ou vinagre. Se caso for detectado que você esta com taxa baixa de ferro no seu organismo é melhor comer alimentos ricos em ferro junto com alimentos ricos em vitamina C (como feijão com couve e laranja), para melhorar a absorção do ferro. Se possível, evite o uso de ferro sintético, pois pode inibir a absorção de zinco.
 A elaboração de um plano de parto é muito importante, pois possibilita a gestante a reconhecer quais são os seus desejos e limites, bem como perceber a necessidade de esclarecer dúvidas ainda a tempo de saná-las. O plano de parto é uma manifestação escrita da mulher gestante indicando quais procedimentos e intervenções ela consente ou não sobre seu parto, pós-parto e relacionados ao seu bebê, bem como seus desejos quanto à ambientação. Você deve apresentar o seu plano de parto para seu médico e para a maternidade ou casa de parto. Vale ressaltar que o plano de parto é uma manifestação juridicamente válida. Você pode começar a fazer um plano de parto desde o inicio da sua gestação. Você pode indicar, por exemplo, que gostaria de ser acompanhado todo o tempo pelo meu companheiro e doula; que não deseja lavagem intestinal, raspagem dos pêlos, soro com hormônio para acelerar as contrações, anestesia, ficar sem beber líquido; que deseja que o ambiente permaneça o mais calmo possível e com o mínimo de luz; que gostaria de amamentar o bebê logo após o parto e garantir alojamento conjunto; que quer que seu companheiro corte o cordão umbilical e acompanhe todos os procedimentos direcionados ao bebê; que caso o parto por algum motivo não possa ser vaginal e tenha que ser parto cesárea, que você gostaria de segurar o bebê com a ajuda do seu acompanhante após o parto. Falando em tipos de parto, é importante que você saiba que o parto vaginal pode ser normal ou cirúrgico (onde a mulher fica somente na horizontal, e sofre várias intervenções médicas) e parto natural (onde a gestante pode ficar na posição que desejar, até mesmo na água). Quanto ao parto cesárea ou cesariana é uma cirurgia de grande porte. Se por algum acaso o seu médico indicar uma cesariana, não deixe de investigar o motivo, pois infelizmente ainda é comum que o obstetra opte por uma cesariana por conveniências alheias à gestante e seu bebê. De qualquer forma na maioria dos casos de indicação para cesariana é possível optar por esperar o dia em que o bebê está pronto para nascer e o corpo da gestante entre em trabalho de parto. Ademais, recomendo que você leia as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) para o parto onde é possivel encontrar indicações saudáveis concernentes ao parto.
Para que o momento do seu parto seja prazeroso e natural você não deve se preocupar com nada, que quer dizer não ativar sua parte racional, pois é sua parte instintiva que deve comandar o andamento do parto. O seu corpo naturalmente vai experimentando o que é melhor, por isso ele deve estar livre. Porém, um preparo anterior pode ter obviamente conseqüências muito produtivas. Você pode fazer exercícios durante a gestação, mas sempre avisar o instrutor sobre a sua situação, e se sentir qualquer tipo de dor, deve parar ou diminuir o ritmo. Exercícios como yoga, pilates, hidroginástica são os mais recomendáveis. Você deve fazer exercícios perineais, pois são muito úteis para o momento final do parto. Um exercício é apertar e relaxar o períneo durante 2 ou 3 minutos, começando com 10 repetições ate conseguir chegar a 50 repetições diárias. Outro exercício é ficar de cócoras com a planta dos pés totalmente apoiada no piso. No começo é difícil, por isso siga seu limite, mas é um exercício poderoso. Fazer exercícios ou dançar utilizando a bola de parto (bola suíça) também é muito positivo para exercitar essa região e para relaxamento, tanto durante a gestação quanto para o momento do parto.
Se você já escutou sobre dor no parto e isso te angustia, você precisa saber algumas informações básicas. Primeiro lugar, o relato de dor muito intensa por muitas mulheres que tiverem o parto chamado normal se deve à posição horizontal em que a mulher é obrigada a permanecer, e assim, a área que sofre a pressão das contrações é também pressionada pelo peso do bebê, além de não facilitar sua saída, pois o canal vaginal também é pressionado. Portanto, esta posição só é conveniente para os médicos poderem praticar suas intervenções, as quais, na maior parte dos casos, são desnecessárias. Outra grande causa da dor intensa é a ação hormonal, mas que pode ser controlada. O hormônio occitocina, também conhecido como hormônio do amor, é o hormônio liberado quando temos um orgasmo, na amamentação e em outros momentos de prazer.  Porém a produção desse hormônio é totalmente inibido quando a pessoa se sente acuada, vigiada ou amedrontada, pois nesses casos é a produção do hormônio adrenalina que é ativado, incitado pelos mecanismos de sobrevivência como atenção, tensão e fuga para a proteção do organismo. Ou seja, quando relaxadas e desfrutando temos a prevalência do hormônio occitocina, mas se qualquer coisa interferir negativamente nesse momento, o organismo recorre ao hormônio adrenalina para se defender, e corta a produção da occitocina. Portanto se for possível que a mulher esteja em um ambiente propenso para seu relaxamento, que lhe transmita segurança e privacidade, ela poderá sentir os benefícios do hormônio ocitocina e sua relação com a dor será muito mais tranquila. Existem vários outros recursos que também auxiliam a diminuir a dor como: ouvir musica, dançar ou fazer movimentos rítmicos; cantar, pois a vibração emitida no canto relaxa o corpo; prestar atenção a própria respiração; usar a banheira; reflexologia; acupuntura; e a presença do companheiro, ajudando a encontrar a posição mais cômoda, fazendo massagens, mudando a musica, trazendo água, toalha ou gelo, e ainda atuar como seu defensor.
A presença ativa do seu companheiro é de grande valor desde o inicio da gestação. Convide, seduza, permita a participação dele. Às vezes os homens sentem curiosidade, mas não encontram abertura e não se sentem aptos a participar do processo gestacional, parto e após. A participação dele será muito proveitosa para você, para ele mesmo e para o bebê. Quanto mais cedo ele participar, mais natural e eficaz será a participação dele no momento do parto e nos cuidados com o bebê, estreitando ainda mais o vínculo entre eles. A atenção dedicada à mulher pelo seu companheiro no momento do parto auxilia também a liberação do hormônio occitocina O relato de homens que participam desses momentos é sempre muito positivo. Caso seu companheiro não possa te acompanhar, permita o envolvimento de alguém que você confie como sua mãe ou uma grande amiga, pois ter alguém do lado da mulher nesses momentos passa confiança e permite o relaxamento.
Cada mãe deve desenvolver suas habilidades e maneiras particulares de lidar com seu pequeno bebê, mas acho importante te apontar algumas informações que podem ser muito úteis. Para começar, sobre a amamentação, é importante você amamentar o bebê o quanto antes (melhor que seja logo que ele nasça assim já é estimulado o instinto de sucção) e em livre demanda. O bebê deve colocar toda aréola na boca, fazer a boca de peixinho (lábios voltados para fora) e encostar o queixo na mama. A amamentação deve ser exclusiva ate o sexto mês de idade (sem necessidade de complemento, chás ou água).  Caso o bebê não consiga esvaziar a mama, você deve ordenhá-la para retirar o excesso de leite. Tente repousar o máximo possível, para isso é importante aceitar e convocar ajuda alheia para tarefas domésticas. Para evitar cólicas no bebê sempre faça-o arrotar, exercícios de bicicleta com as perninhas dele várias vezes ao dia e faça massagens regulares antes da mamada. Você pode inventar a sua massagem ou fazer a Shantala, toque de borboleta ou toque sutil. A massagem pode fazer parte do ritual de banho e dormir. O banho pode ser na banheira, no balde (que é bem relaxante) e também no chuveiro, sempre com sabonete neutro e em bem pequenas quantidades. É importante proporcionar um banho de sol (antes das 9hs e após as 16hs) ao bebê diariamente por até 5 minutos, de preferência sem roupas. O choro do bebê pode ter uma razão física (fome, cólica, frio, calor, sono, dor, ou fralda suja), mas pode ser também somente pedindo um aconchego no colo ou incomodado por excesso de estimulo. Com o tempo e dedicação você aprenderá a distinguir. Para dormir a melhor posição é a de lado com os braços para fora da coberta, e com o apoio de um rolinho nas costas. Por fim, é muito bom evitar chupetas (principalmente nos primeiros meses), mamadeiras, andadores e cercados, e é muito bom usar o sling como suporte para o bebê, pois possui também funções terapêuticas.
Quando nasce um bebê, nasce uma mãe.  Se você permitir, a maternidade traz uma nova mulher, ou a mulher que ainda não tinha surgido em você.  Durante a gestação ficamos muito sensíveis, e muitas questões internas emergem com toda força, exigindo atenção.  É um momento muito oportuno para lidar com essas questões internas, para que então você possa vivenciar mais plenamente sua maternidade.  Lidar melhor com suas questões internas beneficiará também seu filho. Abandonar a posição de cuidada, filha, menina para surgir essa nova mulher nem sempre é fácil.  É preciso desmistificar os próprios medos e, sobretudo aceitar as responsabilidades. Se você sentir qualquer tipo de dificuldade durante a gestação ou no pós-parto, não deixe de procurar uma ajuda profissional especializado como um(a) psicólogo(a), uma educadora perinatal  ou uma doula,  de acordo com a sua necessidade. Você pode também recorrer aos serviços de uma educadora perinatal ou de uma doula para o momento do parto, que costuma ser muito positiva e de grande valia.
Desejo-lhe muito sucesso, saúde e felicidade nessa nova etapa da sua vida!
           


BIBLIOGRAFIA

Material do curso Educadora Perinatal da ONG Amigas do Parto:
Como ensinar a técnica da respiração para o parto?  Adriana Tanese Nogueira
Con la fecundación del óvulo comienza el desarrollo.  Jesica Sanchez.
Demeter. Adriana Tanese Nogueira
Ejercicio perine. Jesica Sanchez
Ejercicios pélvico-perineales. Jesica Sanchez
Plano de parto.  Mara Freire
Pr que a forma de nascer é importante  . Adriana Tanese Nogueira
Como funciona a amamentação. Diana Infanti
Orientações para Mães de Primeira Viagem. Trabalho de finalização do Módulo Recém-Nascido do Curso de Humanização 2007.Autoras: Angela Mattos, Tanila Glaeser, Adriana Tanese Nogueira, Cristina Toledano, María Vergara, Maru Drexler, Lina Ferraz, Lisandra Pinheiro e Fabiana Muller. Coordenação: Adriana Tanese Nogueira
Material de discussão do curso Anatomia e Fisiologia do parto. (Jesica Sanchez e Marcel Robledo Queiroz.)
Material de discussão do curso A dor no parto (Jesica Sanchez e Mara Freire)
Material de discussão do curso Aleitamento Materno. (Diana Infanti)
Material de discussão do curso Acompanhante e equipe. (Mara Freire)
Material de discussão do curso de Nutrição. (Ana Luisa Ochs de Muñoz Rosa)
Material de discussão do curso Plano de parto (Lilian Silveira e Mara Freire)"

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